quarta-feira, 6 de julho de 2011

Artigo citado : Velório de Itamar

No velório de Itamar, Dilma e tucanos
se encontram; FH lembra Plano Real
‘Choro de saudade pelo Itamar e posso ter certeza de que o Brasil todo chora’
Fábio Fabrini
fabio.fabrini@bsb.oglobo.com.br
Thiago Herdy
opais@oglobo.com.br
● BELO HORIZONTE. O ex-presidente
Itamar Franco foi cremado
na tarde de ontem, com
honras de chefe de Estado,
após um velório que reuniu
aliados e antigos desafetos,
como o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso e o ex--
governador José Serra. Durante
a passagem da presidente
Dilma Rousseff pela cerimônia,
acompanhada por quatro
ministros, os portões do Palácio
da Liberdade foram fechados,
e até autoridades e amigos
foram vetados.
Durante o velório, Fernando
Henrique deixou de lado as desavenças
com Itamar, surgidas
após a eleição de 1994, e lembrou
que, por muitos anos, teve
uma relação estreita com o
ex-presidente, entremeada
por muitas brincadeiras. Ministro
da Fazenda do mineiro,
o tucano chegou ao Planalto
em 1995, com o apoio de Itamar,
mas depois seguiram rumos
opostos. Ontem, Fernando
Henrique atribuiu a Itamar
o mérito de “apoiá-lo” na imp
l a n t a ç ã o d o P l a n o R e a l ,
abrindo caminho para a estabilização
da moeda:
— O Plano Real foi feito por
uma equipe. Eu chefiei essa
equipe, mas nada disso seria
feito sem o apoio irrestrito do
presidente da República. Mesmo
quando o Itamar, lá no fundo
da alma dele, podia não estar
totalmente convencido, ele
confiava e deu a mim uma força
que era difícil de imaginar
que algum presidente podia
dar. Fez isso sem nenhum sentimento
menor, sem nenhuma
disputa de vaidade. Choro hoje
de saudade pelo Itamar e
posso ter certeza de que o
Brasil todo chora a morte dele
— afirmou, destacando que
Itamar nunca se deixou fascinar
pelo poder e sempre teve
um sentimento ético, “que faz
falta no Brasil de hoje”.
Fernando Henrique e Itamar
se desentenderam quando o
tucano articulou a própria reeleição
com o apoio do PMDB,
frustrando os planos do mineiro
de voltar ao Planalto. Eleito
governador de Minas, Itamar
decretou moratória da dívida
do estado com a União. Sua
passagem pelo Palácio da Liberdade
foi marcada por inúmeros
enfrentamentos a Fernando
Henrique, com direito a
ameaça de desapropriação da
fazenda do tucano em Minas.
Serra: “Itamar soube
reconduzir o país”
Outro ex-adversário, Serra —
cuja reconciliação política com
Itamar foi costurada nas eleições
do ano passado, após anos
de desentendimentos — disse
que a memória de Itamar merece
homenagem por sua conduta
na Presidência e postura ética:
— Itamar Franco foi presidente
do Brasil num período
difícil. Soube reconduzir o
país, mantendo-o dentro da
normalidade democrática,
abriu caminho para o Plano
Real, que estabilizou a nossa
economia, e sempre foi um
exemplo de integridade, de
transparência. É um homem a
quem o país deve muito.
A passagem-relâmpago da
presidente pelo velório, no início
da tarde, causou constrangimento
a políticos e amigos de
Itamar, impedidos de entrar durante
sua permanência, cerca de
40 minutos. O presidente do PT
de Minas, Reginaldo Lopes, o
presidente do PSDB no estado,
Marcus Pestana, e outras cerca
de 20 autoridades tiveram de esperar
a saída de Dilma, que chegara
pela lateral do palácio, sem
ser vista pelos populares. Na comitiva
estavam os ministros
Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Antonio
Patriota (Relações Exteriores),
Ideli Salvatti (Relações Institucionais)
e Helena Chagas
(Comunicação), que evitaram
dar entrevistas. Apenas Fernando
Pimentel (Desenvolvimento)
falou com a imprensa, mas se limitou
a elogiar Itamar.
Cerca de 4,5 mil pessoas foram
até o Palácio da Liberdade,
ex-sede do governo de Minas,
se despedir de Itamar. A
população teve a chance de
chegar perto do caixão de Itamar,
exceto enquanto a presidente
esteve no local.
O corpo de Itamar chegou
de Juiz de Fora no fim da manhã,
com duas horas de atraso
por causa do mau tempo em
Juiz de Fora, onde o velório na
véspera reunira 30 mil pessoas.
O caixão foi recebido na
entrada do palácio pelo governador
de Minas, Antônio Augusto
Anastasia (PSDB), e o senador
Aécio Neves (PSDB-MG),
que se emocionou quando uma
artista cantou, à capela, o hino
do estado. O governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), e o ex-governador José
Serra chegaram logo depois
com Fernando Henrique e ficaram
até a saída de Dilma.
O corpo de Itamar foi cremado
por volta das 16h no Cemitério
Parque Renascer, numa
cerimônia fechada, da qual participaram
parentes, amigos, o
governador Anastasia, o prefeito
de BH, Márcio Lacerda (PSB),
e poucas autoridades. As cinzas
devem ser depositadas no túmulo
da mãe, Itália Cautiero,
em Juiz de Fora.
— Minas perde a sua grande
reserva moral, uma pessoa cuja
autoridade moral era indiscutível
— destacou Anastasia.

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